0 Crime e Castigo | Opinião
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5 estrelas,
Fiódor Dostoiévski,
Literatura Clássica,
Literatura Russa,
Romance
Autor: Fiódor Dostoiévski
Editor: Editorial Presença (2007)
Género: Literatura Clássica > Romance
Páginas: 512
opinião
★★★★★ (5/5)
Trágica e emocional, Crime e Castigo é uma obra excecional em vários aspetos, como seja a profundidade psicológica do enredo, a ponderação crítica do mesmo e a complexidade individual das personagens intervenientes. Neste livro, Dostoiévski deixa-nos um extraordinário e profundo estudo da natureza humana, aliado a ponderações filosóficas, religiosas e políticas.
O crime é cometido quando o protagonista, Roskolnikov, assassina uma velha penhorista com o objetivo de lhe roubar dinheiro/pertences e também a irmã desta, que acaba por testemunhar involuntariamente o homicídio. O castigo surge logo depois sob a forma de culpa, remorso e medo.
Psicologicamente torturado, Roskolnikov passa a viver num turbilhão de emoções, alternando entre euforia e pânico, alegria e depressão, amargura e alívio - drama que Dostoiévski descreve de modo extraordinário!
A passo com o desassossego emocional, acompanhamos de perto as motivações de Roskolnikov, a sua atitude niilista e aparente confusão moral. Apesar de o jovem estudante viver na pobreza, este não foi o único fundamento para o malefício cometido; Roskolnikov divide as pessoas em dois grupos: as ordinárias e as extraordinárias. Colocando-se a si próprio no último grupo, Roskolnikov vê-se acima das regras da sociedade, intelectualmente superior e capaz de feitos importantes - não necessariamente éticos - sem sofrer por eles danos ou remorsos. Além de tudo isto, não considera o homicídio um ato condenável se a vítima não for um membro "útil" da sociedade; pelo contrário, encara a morte da agiota como um acontecimento benigno.
Roskolnikov irá - à medida que mente e corpo se corrompem em irracionalidades - que não está realmente no grupo dos extraordinários e a redenção chegará através do seu amor por Sónia, personagem de verdadeira devoção familiar e religiosa, cujo sacrifício (e "crime") tem como objetivo beneficiar os outros e nunca a própria.
Frases Preferidas
«essa sensibilidade de apanhar as coisas todas pelo lado bom também era doentia.» - p. 15
«Porque é necessário ter uma porta onde bater. Porque há momentos na vida em que é indispensável ir a qualquer lado, seja aonde for!» - 19
«O bandalho do ser humano habitua-se a tudo!» - p. 30
«Oh, sim, num caso destes abafamos também o sentimento moral; a liberdade, a paz, até a consciência, levamos tudo à feira da ladra. Adeus, vida!, mas que sejam felizes os nossos seres amados.» - p 46
«Percentagem! São bem bonitas, realmente, as palavrinhas deles, tão calmantes, tão cientificas. Diz-se: percentagem - portanto não é preciso mais nada, não há mais preocupações.» - p 52
«é a doença que engendra o crime ou é o próprio crime que, pela sua natureza especial, é sempre acompanhado por uma espécie de doença?» - p 71
«É assim que as coisas se passam: a pessoa honesta e sensível faz confidências, a pessoa prática ouve e come. E acaba por engolir-te todo, a pessoa prática.» - p 122
«São uns fala-baratos e uns fanfarrões miseráveis! Toca-vos um sofrimentozinho de merda e põem-se a cacarejar em cima dele como a galinha em cima do ovo! Até nisso cometem plágio.» - p 160
«Morrer é inconveniente!» - p 172
«a clareza de espírito, a frescura de sensações e um ardor puro e honesto do coração. Diremos entre parênteses que manter isso tudo é a única maneira de não se perder a beleza, mesmo na velhice.» - p 195
«as pessoas, pela lei da natureza, se dividem em geral em duas categorias: a inferior (vulgares), ou seja, por assim dizer, o material que serve unicamente para engendrar semelhantes; e os homens propriamente ditos, ou seja, as pessoas que possuem o dom ou o talento de dizer, no seu meio, uma palavra nova.» - p 245
«O sofrimento e a dor são sempre obrigatórios para uma consciência ampla e um coração profundo» - p 249
«O manhoso é sempre apanhado nas coisas mais simples.» - p 254
«porque não fazer-me de ordinário, já que esse é um traje tão cómodo para o nosso clima e… e sobretudo, para quem tenha uma inclinação natural para isso.» - p 268
«Era mais um dos muitos que formavam a legião enorme e heterógena de ordinários, abortos débeis e tiranetes diletantes em todas as matérias, que se agarram imediata e obrigatoriamente à ideia que esteja mais em voga, conseguindo banalizá-la num instante e transformar em caricatura tudo o que servem, às vezes do modo mais sincero.» - p 344
«somos pessoas diferentes… E sabes, Sónia, só agora compreendi, agora mesmo, para onde chamei por ti. Mas ontem, quando chamei por ti, eu próprio ainda não sabia. Apelei a ti e vim ter contigo por uma única razão: para que não me abandones.» - p 389
«porque sou tão parvo que não quero ser mais inteligente, só porque os outros são parvos e eu tenho a certeza disso?» - p 392
«quem for forte de espírito e de mente será soberano dos homens! Para eles, quem muito ousar terá razão! Quem menos escrúpulos tiver, será o legislador deles! Quem ousar mais do que os outros, terá ainda mais razão!» - p 392
«Torne-se sol, e será visto por todos» - p 433
«Que feitio tem essa gente toda! Nunca há-de confessar que, no fundo, acredita piamente em milagres!» - p 438
«Se na retidão existir nem que seja uma centésima parte de nota falsa, acontece logo uma dissonância e, a seguir, um escândalo. Com a lisonja, se for tudo falso, até à última nota, mesmo assim será agradável e ouvido com prazer e, mesmo que seja um prazer primitivo, é sempre um prazer.» - p 447
«Ter medo por estética é o primeiro sinal de impotência!» - p 485
«Ressuscitou-os o amor, o coração de um era uma fonte de vida inesgotável para o outro.» - p 510
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