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Wook.pt - Pequenas Misérias da Vida Conjugal

Balzac revela-se aqui um divertido observador da intimidade dos casais. No essencial, apresenta-nos dois tipos humanos. De um lado, Adolphe, um burguês de desesperante aridez mental; do outro, Caroline, reduzida à dependência. 

Em conjunto, os dois jovens esposos vão percorrer o caminho que leva das promessas de felicidade às desilusões e mesmo às misérias do casamento. Como muitas vezes acontece, o casal vai viver as diferentes fases da experiência da incompreensão mútua.

O resultado é um quadro ao mesmo tempo grave e pleno de humor, onde Balzac mostra o seu talento para entender a psicologia, o amor-próprio e os conflitos das personagens.


Autor: Honoré de Balzac
Editor: Relógio D'Água (Julho, 2019)
Género: Romance
Páginas: 208
 


opinião
★★★★
O senhor que exclama tantas vezes: “Não sei o que tem a minha mulher!...”, há de beijar esta página de filosofia transcendente, pois achará aqui a chave do carácter de todas as mulheres!... Agora, conhecê-las tão bem como eu as conheço, nem por isso seria conhecê-las a fundo: pois se elas não se conhecem a si próprias! Porque até Deus, e ninguém o ignora, se enganou a respeito da única com quem teve de lidar e se dera ao trabalho de fazer.

Pequenas Misérias da Vida Conjugal é miseravelmente cómico.

Damos por nós a acompanhar, através das animadas e afiadas palavras de Balzac, Adolphe e Caroline desde a felicidade de um matrimónio recente até à completa indulgência e desinteresse, passando pelas diferentes fases de desilusão e conflito que aí conduziram. Passei rapidamente pelo livro quase sem dar por ele, genuinamente divertida com as peripécias pintadas pelo autor, mas sem perder de vista a tragédia verdadeiramente retratada.

Frases Preferidas
Quantas vezes as nossas opiniões não são ditadas pelos acontecimentos desconhecidos da nossa vida? – 20

Elas possuem um repertório de malícias disfarçadas de bondade, revestidas de uma indulgência capaz de exasperar um santo, de tornar sério um macaco e de arrepiar um demónio – 34

As mulheres que sabem sempre muito bem explicar as suas grandezas, deixam-nos as fraquezas para nós adivinharmos – 36

O sentimento não é a mesma coisa que o raciocínio, a razão não é o prazer, e o prazer não é, certamente, uma razão – 37

As mulheres têm sempre medo daquilo que se partilha – 44

O senhor que exclama tantas vezes: “Não sei o que tem a minha mulher!...”, há de beijar esta página de filosofia transcendente, pois achará aqui a chave do carácter de todas as mulheres!... Agora, conhecê-las tão bem como eu as conheço, nem por isso seria conhecê-las a fundo: pois se elas não se conhecem a si próprias! Porque até Deus, e ninguém o ignora, se enganou a respeito da única com quem teve de lidar e se dera ao trabalho de fazer. – 53

Pois, na sua cólera contra uma rival, todas as mulheres, até as duquesas, empregam a invetiva e chegam a servir-se das palavras das regateiras; todas as armas lhes servem então – 54

A maior parte dos homens demonstra sempre certa compreensão perante uma situação difícil, quando não a compreende completamente – 55

O Vício, o Cortesão, a Infelicidade e o Amor só conhecem o presente – 57

Nenhum homem descobriu ainda o processo de dar um conselho de amigo a qualquer mulher, nem sequer à sua – 60

Dizem que as mulheres são perversas… Mas quem é que as perverte? – 71

A bisbilhotice nunca adormece, ao passo que a prudência tem os seus momentos de esquecimento – 83
Ó mulheres! Vós fostes ouvidas, pois, se nem sempre sois compreendidas, conseguis sempre que vos ouçam lindamente!... – 96

Para se ser feliz no casamento é preciso: ou ser um homem inteligente, casado com uma mulher terna e espiritual, ou então que, por efeito do acaso, que não é tão comum como se poderia pensar, tanto o homem como a mulher sejam estúpidos em altíssimo grau – 127

Durante a sua juventude as mulheres querem ser tratadas como divindades, adoram o ideal; não suportam a ideia de ser aquilo que a Natureza quer que elas sejam – 129

Meu caro: a felicidade conjugal, como a dos povos, funda-se na ignorância. É uma felicidade cheia de condições negativas – 134


Quando a uma mulher se dão razões em vez de se lhe dar o que ela quer, poucos homens ousaram descer ao fundo deste pequeno abismo chamado coração, para avaliar a força da tempestade que nele se levanta então subitamente - 161

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