0 Adão e Eva no Paraíso | Opinião
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4 estrelas,
Eça de Queirós,
Opinião
Adão, Pai dos Homens, foi criado no dia 28 de Outubro, às duas horas da tarde… Assim o afirma, com majestade, nos seus «Annales Veteris et Novi Testamenti», o muito douto e muito ilustre Usserius, bispo de Meath, arcebispo de Armagh, e chanceler-mor da Sé de S. Patrício. (…) Adão, no terrível dia 28 de Outubro, depois de espreitar e farejar o Paraíso, não ousou declarar reverentemente ao Senhor: «Obri¬gado, oh meu doce Criador, dá o governo da Terra a quem me¬lhor escolheres, ao elefante ou ao canguru, que eu por mim, bem mais avisado, volto já para a minha árvore!...» Mas enfim, desde que nosso Pai venerável não teve a previdência ou a abnegação de declinar a grande supremacia -continuemos a reinar sobre a Criação e a ser sublimes... Sobretudo continuemos a usar, insaciavelmente, do dom melhor que Deus nos concedeu entre todos os dons, o mais puro, o único genuinamente grande, o dom de O amar - pois que não nos concedeu também o dom de O compreender. E não esqueçamos que Ele já nos ensinou, através de vozes levantadas em Galileia, e sob as mangueiras de Veluvana, e nos vales severos de Yen-Chu, que a melhor maneira de O amar é que uns aos outros nos amemos, e que amemos toda a Sua obra, mesmo o verme, e a rocha dura, e a raiz venenosa, e até esses vastos seres que não parecem necessitar o nosso amor, esses sóis, esses mundos, essas esparsas nebulosas, que, inicialmente fechadas, como nós, na mão de Deus, e feitas da nossa substância, nem decerto nos amam - nem talvez nos conhecem.
Editor: Colares Editora
Género: Romance
Páginas: 80
💬 opinião
★★★★☆
«Sofrendo - por arrastar consigo, irresgatavelmente, esse mal incurável que é a sua alma!» - p. 52
Tudo começou (aparentemente) num domingo, dia 23 de Outubro de 4004 a. C. É daqui que partimos com Eça numa narrativa sobre o início da humanidade, acompanhando Adão e Eva nas suas dificuldades do dia-a-dia.
Tudo é novidade e é precisamente a hostilidade destes primeiros dias, com a consequente necessidade de ultrapassar novos desafios, que conduz à evolução. Uma evolução desejada, mas cujo real benefício Eça nos leva a questionar quando compara o nosso quotidiano cheio de problemas e stress com o pacífico dia-a-dia dos animais, sem dúvidas filosóficas ou religiosas.
Deambulando habilmente entre religião e ciência, incorporando na sua narrativa tanto ensinamentos bíblicos como as evidências do evolucionismo, não parece ser intenção do autor que o leitor perca a sua fé quer num quer noutro, o que torna a leitura muito agradável e cómica, sem escarnecer ou criticar.
Acabei por gostar muito deste pequeno livro; adorei a prosa e a imaginação do autor, o humor com que leva a cabo esta sua história e gostei imenso dos parágrafos finais!
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