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0 Herzog + Opinião


  Publicado pela primeira vez há exatamente 50 anos e considerado um dos maiores romances de Saul Bellow, Herzog conta a história de Moses Herzog, intelectual de muitos conflitos e de sofrimentos emocionais e filosóficos, mas também homem de grande charme. 
  A sua existência está a desintegrar-se em todos os domínios. Herzog falhou enquanto escritor, enquanto académico, enquanto pai, enquanto marido e amigo - perdeu a segunda mulher e o melhor amigo, que o traíram um com o outro e agora formam um novo casal. Apesar de tudo, Herzog vê-se como um sobrevivente e aplica o seu inconformismo e a sua ira na escrita de cartas (que nunca chegará a enviar) para amigos, inimigos, rivais, colegas, pessoas famosas - vivas e mortas -, e em que revela a sua invulgar visão do mundo. 
  Uma agudíssima observação da vida pública e privada, no mais autobiográfico romance de Saul Bellow.

Autor: Saul Bellow
Editor: Quetzal (Setembro, 2014)
Género: Romance
Páginas: 488
Original: Herzog (1964) [Goodreads]

opinião
(4 em 5)

Através do intelectual e introspetivo Herzog, que empresta o nome a este premiado romance psicológico, Saul Bellow explora os extremos que nos compõem.

O segundo divórcio vem agravar a crise de meia idade que Herzog está a viver, especialmente quando descobre que a esposa, Madeleine, lhe foi infiel e que, aparentemente, só ele é que não sabia…

Enquanto tenta lidar com a traição e rejeição de Madeleine e luta pela custódia da filha de ambos, Herzog cai em desequilíbrio mental e instabilidade emocional ; a sua vida pessoal desmorona-se à sua volta, não encontra lugar nesta sociedade materialista decadente em que as pessoas se esforçam ao máximo por esconder as suas identidades e preservar a juventude, o mundo parece-lhe caótico e não consegue compreender o sentido da sua própria existência.

Confrontado com a necessidade de reparar a sua vida, Herzog lidará com isso à sua própria maneira, e é assim que o livro acaba por se encher de reflexões profundas, ideologias e filosofias que se contradizem. Herzog caminha por entre os extremos da emoção, cedendo ao seu otimismo romântico, e os extremos da razão.

As memórias do passado levam-no a contemplar os muitos falhanços da sua vida, nos vários papeis que desempenhou, os desapontamentos que sofreu e as desilusões que ele próprio provocou.


Muito do que lhe vai na cabeça é expurgado através de cartas, que escreve mas que não envia, para familiares, amigos e personalidades conhecidas. Esta atividade é para ele terapêutica, permite-lhe dissecar ideias, dialogar consigo próprio, embarcar numa viagem de autoconhecimento que lhe permitirá amadurecer, sair do isolamento, abandonar a necessidade de racionalizar e justificar todos os aspetos da vida… procurar, enfim, um novo começo.




✏ PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA 1976


✏  Escritor norte-americano de etnia judaica, Saul Bellow nasceu a 10 de Junho de 1915 em Lachine, nas cercanias de Montreal, no Canadá. Filho de judeus russos que haviam imigrado dois anos antes do seu nascimento, viveu num bairro desfavorecido de Montreal até 1924, altura em que a família se decidiu mudar para Chicago. A sua mãe faleceu em 1932 mas, apesar do desgosto profundo que sofreu, Saul Bellow conseguiu ser admitido no curso de Literatura Inglesa da Universidade de Chicago. Acabou no entanto por pedir transferência para a Northwestern University , de onde obteve um diploma em Antropologia e Sociologia em 1937. Matriculou-se depois num curso de pós-graduação na Universidade de Wisconsin, que logo abandonou, casando-se e decidindo tornar-se escritor a tempo inteiro. Na obrigação de sustentar a sua nova família, começou a leccionar na Escola Normal Pestalozzi-Froebel de Chicago em 1938, e aí permaneceu até 1942, iniciando então uma colaboração com o departamento editorial da Enciclopédia Britânica. No ano de 1944, e no âmbito da entrada dos Estados Unidos da América na Segunda Guerra Mundial, foi destacado para a Marinha Mercante. Não foi destacado para a Marinha de Guerra devido à sua ascendência russa e às simpatias que nutria na época pelos ideais de esquerda. A vida a bordo proporcionou-lhe o tempo e a disposição necessárias ao retomar da escrita e, assim, publicou nesse mesmo ano de 1944 o seu primeiro romance, The Dangling Man . A obra, em parte autobiográfica, conta a história de um jovem que atravessa uma crise ao saber que vai ser recrutado. Em 1947 foi a vez da segunda, The Victim. Em 1948 recebeu uma bolsa da Fundação Guggenheim, e partiu para a Europa, passando cerca de dois anos em Paris. Aí compôs The Adventures Of Augie March (1953), que lhe valeu o National Book Award no ano seguinte ao da sua publicação. O seu sucesso como romancista foi continuado com obras como Seize The Day (1956) e Herzog (1964), relato das desventuras de Moses Herzog, um intelectual judeu que enlouquece e que, para sobreviver às suas tendências suicidas, escreve cartas a Deus e a filósofos desaparecidos. No ano de 1976 recebeu o Prémio Pulitzer na categoria de Ficção pela publicação de Humboldt's Gift (1975), romance em que descreve o percurso de um escritor de sucesso, Charlie Citrine, a quem falta talento. Nesse ano de 1976 foi também galardoado com o Prémio Nobel da Literatura. Faleceu a 5 de Abril de 2005, na sua residência em Massachussetts, aos 89 anos. 
Saul Bellow. In Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2011.

Livros:
     - A Organização Bellarosa (Terramar, 1990)
     - Uma Recordação Minha (Editorial Teorema, 2005)
     - A Autêntica (Editorial Teorema, 2005)
     - A Vítima (Texto Editores, 2006)
     - Henderson, O Rei da Chuva (Texto Editores, 2006)
     - Aproveita o Dia (Texto Editores, 2007)
     - O Planeta do Sr. Sammler (Texto Editores, 2007)
     - Morrem Mais de Mágoa (Quetzal, 2010)
     - As Aventuras de Augie March (Quetzal, 2010)
     - Jerusalém - Ida e Volta  (Tinta da China, 2011)
     - Ravelstein (Quetzal, 2011)
     - O Legado de Humboldt (Quetzal, 2012)
     - Herzog (Quetzal, 2014)

            



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