2 Não Matem a Cotovia + Opinião
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5 estrelas,
Harper Lee
As cidadezinhas do Alabama seriam simples e pacatas se não sofressem de uma doença terrível: o racismo.
Um advogado defende com toda a convicção, e arrostando com ameaças e preconceitos, um negro acusado de violentar uma rapariga branca. A sua luta é contudo vã: nunca num tribunal de Alabama se dera razão a um negro contra um branco.
É uma criança que nos conta esta história. Uma criança que vai descobrindo o mundo que a rodeia e é testemunha de violências e atrocidades. A sua narrativa semi-inconsciente quase se torna a voz da adormecida consciência norte-americana.
Autor: Harper Lee
Editor: Europa-América (1986)
Género: Romance
Páginas: 276
Original: To Kill a Mockingbird (1960)
nota: a editora Difel editou este livro em 2004 com o título 'Por Favor não Matem a Cotovia' e a Relógio D'Água editou-o em 2012 com o título 'Mataram a Cotovia'.
opinião:
Absolutamente extraordinário!
Alicerçado em várias camadas, 'Não Matem a Cotovia' aborda questões profundas que ainda hoje, de uma ou outra forma, se mantêm pertinentes. Todo o significado e conceito da narrativa é ampliado pela identidade do próprio narrador: uma criança.
Sem preconceitos, fruto de uma consciência simples e pura, a inocência das crianças entra em conflito com a corrupção do mundo que as rodeia - um mundo deliberadamente cruel que pressupõe e estereotipa sem misericórdia. Em contrapartida, é precisamente a inocência de uma outra criança, vítima do meio em que vive, moldada pela solidão, negligência e maus tratos que acaba por provocar um acto insensível e criminoso.
Atticus, pregando pelo exemplo, é um personagem magnífico e inesquecível. Tendo em conta o meio e época em que vivia, posso apenas supor em relação à coragem necessária para não ficar calado perante a injustiça, para contrariar os restantes de forma a fazer o que se sabe ser o humanamente correcto. Adorei o carinho que Scout e Jem têm pelo pai, a forma como tentam absorver as suas valiosas lições, mesmo que nem sempre concordem ou sequer as compreendam, e, mais tarde, o modo como esse carinho evolui para orgulho e respeito, especialmente no caso de Jem.
Harper Lee foi fabulosa na forma como construiu um ponto de vista inocente em Scout, outro mais maduro, embora ligeiramente fanfarrão, em Jem, e ainda a perspectiva adulta desenvolvida em outras personagens. Assim, as mesmas situações são apresentadas ao leitor tanto através de uma interpretação corrompida como através de interpretações optimistas e sábias que não ignoram, no entanto, o meio social em que se integram, e ainda a interpretação inocente de quem tem apenas boa fé no carácter alheio.
O racismo, correlacionado com a injustiça, o sacrifício e pura falta de bom senso, é um tema muito bem manipulado neste livro, coabitando com outros problemas como a educação, o estatuto social e o limitado papel da mulher.
As personagens - para o bem e para o mal - estão muito bem caracterizadas. Adorei especialmente a calma sabedoria de Miss Maudie que compreende o meio em que se insere, as limitações de quem a rodeia e a necessidade de progresso.
Apesar de ter tido alguns problemas com esta tradução, adivinho-lhe uma prosa original belíssima, encantadora e muito poderosa que se adequa perfeitamente à pequena e doce narradora, Scout.
Inesquecível.
Frases Preferidas:
«Há uma série de homens que…que estão tão atarefados a pensar no outro mundo que nunca chegam a viver neste»
«- Não percebo porque é que ele nunca mais vai à caça, agora… - disse eu. - Talvez eu te possa dizer - respondeu Miss Maudie. - O que o teu pai é, é um homem civilizado, desde o fundo do seu coração.»
«Quase todas as pessoas são boas, Scout, quando por fim as vemos.»
«Coragem é, quando sabemos que estamos vencidos antes de começar, começarmos, apesar de tudo, e irmos até ao fim, aconteça o que acontecer.»
«(…) antes de viver com as outras pessoas, eu tenho de viver comigo mesmo. A única coisa que, para mim, não se submete à regra da maioria é a consciência de uma pessoa.»
«Os palavrões são uma época que todas as crianças atravessam, e desaparecem com o tempo, quando elas verificam que isso não atrai a atenção de ninguém.»
«As pessoas com a cabeça no seu lugar nunca têm orgulho dos seus talentos»
«Sr. Finch, há uma espécie de homens sobre os quais nós devemos disparar antes de lhes dizer: «Como tem passado?». Mesmo assim, não valem a bala que é precisa para os matar.»
«ora, se nós seguíssemos sempre os nossos pressentimentos, seríamos como gatos às voltas para apanhar a cauda.»
«Com ele, a vida era uma rotina; sem ele, a vida era insuportável.»
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Perfeito para fazer trabalhos de escola! Obrigado.
ResponderExcluirMuito bem. Excelente livro. Parabéns pelo comentário.
ResponderExcluirAlmerinda Bento