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0 O Comboio dos Órfãos + Opinião

  Em 1929, Nova Iorque é uma cidade vibrante mas cruel para com os mais fracos. O número de órfãos a viver nas ruas multiplica-se. Demasiado visíveis, estas crianças são um incómodo para o qual é encontrada uma solução radical. Em comboios que partem rumo ao interior dos Estados Unidos, os órfãos são amontoados e oferecidos a quem os quiser receber, os seus destinos entregues a desconhecidos, as suas vidas à mercê do acaso.
  Vivian teve em tempos um lar e uma família. Após o incêndio que matou os seus pais e a deixou só no mundo, ela passa a ser apenas mais uma entre as centenas de crianças forçadas a embarcar no Comboio dos Órfãos. Décadas depois, Molly Ayer, uma jovem que não conhece outro sentimento que não a rejeição das famílias de acolhimento por onde passa, é acusada de roubar um livro. Ela sabe que, agora, ninguém a defenderá. Com aquele livro, morrem também os seus sonhos. 
   O fio do destino vai ligar estas duas mulheres. Vivian e Molly são mais parecidas do que imaginam. E no dia em que Molly decide solucionar o grande enigma do passado de Vivian, sem o saber, vai encontrar a sua própria salvação. Um relato épico centrado numa realidade da História americana há muito esquecida…

Autor: Christina Baker Kline
Editor: ASA (Junho, 2014)
Género: Romance
Páginas: 384
Original: Orphan Train (2013) [Goodreads] [Wook]

   

opinião
★ ★ ★  (4/5)

Image and video hosting by TinyPicEntre 1854 e 1929, milhares de órfãos e crianças abandonadas foram transportadas em comboios norte americanos com destino a novas famílias adoptivas. O objectivo deste sistema era salvar estas crianças desamparadas da pobreza e da depravação, mas acabava muitas vezes por atirá-las justamente para este tipo de cenário, onde adopção era sinónimo de servidão. Christina Baker Kline pegou nesta triste realidade e construiu em torno dela uma história formidável.

Em 2011, a viúva Vivian, de 91 anos, pouco parece ter em comum com a adolescente Molly, de 17, mas, na realidade, partilham histórias de vida bastante similares. As analogias começam a surgir quando Molly, devido à tentativa falhada de roubar uma cópia de Janey Eyre da biblioteca, é sentenciada a serviço comunitário, nomeadamente, ajudar Viviane a arrumar o seu sótão. As memórias são reavivadas pelo desempacotar de cada artigo e Viviane acaba por partilhar a sua história com Molly.

Ao recuarmos no tempo, ficamos a conhecer as origens da jovem Vivian, imigrante irlandesa, cuja vida mudou drasticamente após um incêndio em casa que a deixou sem família. Vivian é encaminhada para o comboio dos órfãos, juntamente com várias outras crianças, com a esperança de ser adoptada por uma boa família. Infelizmente, Vivian acaba por se encontrar constantemente à mercê de estranhos cujo único interesse por ela passa pela utilidade que ela possa vir a ter. A justaposição entre o passado (1929-1943) de Vivian e o presente (2011) está muito bem executada, andando a par, as duas épocas acabam por se complementar uma à outra.

Tanto Vivian como Molly acabam por crescer receosas e desconfiadas, sem capacidade de sentir as emoções de forma natural. Ambas viram demasiado, perderam demasiado e foram obrigadas a crescer demasiado depressa. Órfãs de pai, filhas de mães incapazes e vítimas de estereotipagem preconceituosa, Molly e Vivian têm bastante em comum. Sem se sentirem realmente desejadas, acabam de passar de casa em casa, sendo obrigadas a adaptarem-se às situações e até a adquirir novas identidades. Estas semelhanças acabam por as aproximar de tal forma que ganham verdadeiro impacto na vida uma da outra.

Gostei muito deste livro! Não apenas pela comovente mas inspiradora história de Molly e de Vivian mas também pelo encadeamento histórico relativo aos comboios que transportavam os órfãos e ainda pela mensagem que o livro transmite sobre o que escolhemos levar connosco, o que escolhemos deixar para trás e o que acabamos por ganhar entre uma coisa e outra.

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