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0 A Morte de Ivan Ilitch | Opinião

Wook.pt - A Morte de Ivan Ilitch

«Este livro tão breve, uma das maiores obras-primas do espírito humano, tem sido, desde a sua publicação, um motivo de controvérsia para a crítica: trata-se de uma obra sobre a morte ou de uma obra que nega a morte?» António Lobo Antunes

Autor: Lev Tolsoi 
Editor: BIS (2008)
Género: Romance
Páginas: 96


opinião
★★★★★

Pouco depois de receberem a notícia da morte de Ivan Ilitch os seus amigos "mais chegados" põem-na de parte ocupando os seus pensamentos com as possíveis transferências e promoções no emprego agora que Ivan se foi e a maçada que representa para eles ter que comparecer ao velório… Ou seja, Tolstoi não perde tempo para nos mergulhar na falta de autenticidade da sociedade russa do século XIX, no seu egoísmo, falsidade e hipocrisia.


Características de um sistema social em que Ivan estava muito bem integrado. Nada de barulho ou desordem, nada de confusão - toda a sua vida Ivan primou pela moderação, pelo equilíbrio e pelo decoro. Materialista e snob, fez questão de se rodear da "melhor sociedade" em detrimento dos restantes "pobretanas". Viveu de acordo com as expectativas e os objectivos dos seus pares, orientou a sua vida da forma que era "suposto" fazê-lo, ultrapassando etapas pela ordem presumida.

É na doença, perante a possibilidade da morte (e, mais tarde, a sua inevitabilidade) que Ivan abre finalmente os olhos. Os familiares e amigos minimizam a sua condição, não se querem comprometer, agem como se a sua doença fosse uma contrariedade para as suas vidas e, mais tarde, comportam-se como se Ivan já estivesse morto e enterrado há muito; é em quem menos espera que Ivan encontra o valor moral que aos outros falta. 


Na solidão profunda que o rodeia, Ivan repensa a sua vida e chega à triste conclusão que desceu a montanha enquanto se convencia que a subia. Poucas são as boas recordações que lhe restam além das da infância; a sua vida perdeu valor à medida que erguia barreiras entre ele e o mundo e adoptava os valores da sociedade. 


Chega-lhe então a pavorosa ideia de que, afinal, poderá não ter vivido como devia; existe a possibilidade de ter desperdiçado a sua vida. Embora comece por rejeitar este pensamento, os seus últimos dias de vida mostram-lhe a verdade. É assim que, admitindo a hipocrisia e os erros da sua vida, na morte, Ivan renasce. 




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