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0 As Aventuras de Tom Sawyer | Opinião



No prefácio ao clássico As Aventuras de Tom Sawyer, Twain revela-nos que o seu propósito ao escrever o livro fora entreter rapazes e raparigas e fazer recordar aos adultos aquilo que eles próprios tinham sido. 

E é assim que as encruzilhadas da infância, onde se cruzam liberdade e responsabilidade, são trilhadas com imensa mestria, humor e pés descalços por um autor que não se coíbe nunca de elevar à condição de caricatura as contradições e as certezas dos adultos.


Autor: Mark Twain
Editor: Civilização (2014)
Páginas: 304



opinião
★★★★✩ (4/5)

Gostei muito de ler As Aventuras de Tom Sawyer e penso que nostalgia será a palavra chave para o justificar... e não apenas porque adorava ver os desenhos animados quando era criança.

Desconsiderando as verdadeiras implicações das suas acções e agindo sem maldade genuína, estas crianças, especialmente Tom e Huckleberry, facilmente nos transportam até tempos em que nós próprios nos expressávamos com igual simplicidade, passando muitas vezes pela casmurrice [demasiadas vezes, no meu caso] e tirávamos as mais rápidas [e extremamente improváveis] conclusões, tomando inclusivamente a magia e o fantástico como bases plausíveis para justificar qualquer fenómeno que escapasse à nossa compreensão.


Para além de me ter permitido retroceder alguns aninhos, a comicidade das sucessivas tropelias de Tom é genuína e a esperteza com que ele lida com as situações que se lhe apresentam é interessante o suficiente para que este possa ser também um livro para os mais crescidos. A facilidade com que chegam às mais estapafúrdias justificações não deixa de ser enternecedora, tal como a simplicidade dos seus diálogos, as tentativas de copiar o comportamento adulto sem, no entanto, possuírem os mesmos propósitos e conhecimentos. Mesmo quando se projectam no futuro, fazem-no com extrema inocência, como se não existisse uma fase de crescimento intermédia e fossem crianças para sempre.

Penso que todos nos podemos identificar um bocadinho com este regila do Tom e, nesse sentido, penso que todos podemos tirar prazer desta leitura.

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Frases Preferidas:
«Acontece muitas vezes que, quanto menos fácil se toma a justificação de certos hábitos, mais nos custa libertar-nos deles.» - p. 51

«embora o padre falasse a respeito do fogo do Inferno, de enxofre, e mostrasse um número de eleitos tão reduzido que quase dava vontade de não ser salvo» - p. 53

«Bem vê, eu não sou boa pessoa - pelo menos é o que todos dizem, sem que eu saiba como defender-me» - p. 254

«a esperança dificilmente morre no espírito dos que têm pouca idade e, por isso, não estão familiarizados com a desgraça» - p. 268


«Ainda mesmo que se trata-se do próprio Satanás, sempre haveria pessoas capazes de pôr o seu nome numa petição de perdão, e deitar uma lágrima de parvoíce.» - p. 283



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