Somerset, 1836.
A recém-nascida Hope é a prova viva do adultério da mãe, a aristocrata Lady Harvey. A sua chegada a este mundo não é festejada e as lágrimas em seu redor não são de alegria. Imediatamente arrancada àquele meio privilegiado e entregue nas mãos dos Renton, uma família pobre mas acolhedora, Hope cresce sem saber a verdade sobre as suas origens. E quando chega o dia em que também ela tem de começar a contribuir para o sustento da família, é precisamente para os Harvey que trabalha.

Deslumbrada perante a mansão luxuosa, a elegância dos seus patrões e a beleza que os rodeia, Hope enfrenta com brio e gratidão a extenuante rotina de trabalho. Mas a descoberta de uma ligação proibida vai lançá-la sozinha para as ruas, para uma vida de miséria e solidão.

É na adversidade, porém, que descobre uma força interior que desconhecia, bem como um talento para ajudar os mais fracos. Trata-se de um dom que não passa despercebido ao Dr. Bennett, que a leva consigo para a Crimeia, para ajudar a tratar dos feridos vindos dos sangrentos campos de batalha. Mas os segredos do passado teimam em vir ao de cima, e Hope tem ainda um longo caminho a percorrer na tentativa de enfrentar o legado do seu nascimento.

Autor: Lesley Pearse 

Editor: Edições Asa (Setembro, 2015) 

Género: Romance

Páginas: 664

Original: Hope (2006)  

A leitura do livro "De Amor e Sangue" entusiasmou-me logo desde o início; como filha ilegítima de uma senhora abastada, Hope é entregue aos pais de uma das empregadas da casa, destinada a vir a ser criada da própria mãe, sem que qualquer uma delas o saiba. Sendo mais tarde obrigada a afastar-se da família, Hope envereda por um caminho bem diferente, transportando-nos assim até à miséria vivida nas grandes cidades, onde foi obrigada a enfrentar vários desafios e, mais tarde, até ao episódio do Cerco de Sebastopol, no papel de enfermeira auxiliar na Guerra da Crimeia.

Um dos meus temas preferidos neste livro é a discrepância entre as condições de vida das diferentes classes sociais. Lesley Pearse volta a fazer um trabalho excecional na construção de vários episódios em que estas diferenças são mais do que óbvias. Além da inerente falta de oportunidades, os menos favorecidos eram vítimas de inúmeras injustiças; neste livro observamos vários episódios revoltantes em que, mesmo não estando na origem do infortúnio, os mais abastados tomam atitudes igualmente cruéis, recusando-se a agir seja por falta de interesse ou por não se quererem comprometer. Esta inércia é repugnante, especialmente quando são menosprezados os problemas daqueles que lhes são tão dedicados.

Em paralelo à vida da destemida e irreverente Hope, Pearse narra a história de Nell, a rapariguinha que levou Hope para os pais criarem como se fosse mais um dos seus filhos. Certa da sua posição "inferior", Nell reage com submissão às sucessivas desconsiderações da patroa, não deixando por isso de ser uma personagem igualmente cativante; o amor familiar é o único que conhece, recebendo nada mais que abuso físico e psicológico do homem com quem casou. É esse mesmo amor que a levará a tomar uma decisão definitiva na sua vida.

Por último, gostei imenso da introdução da homossexualidade numa história decorrente nesta época; mesmo não simpatizando com os personagens homossexuais da narrativa, é fácil assimilar as dificuldades que eram obrigados a enfrentar e a necessidade de esconderem o seu verdadeiro eu face a toda a ignorância, intolerância e preconceito que os rodeava.

Mais um excelente livro da autora.