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  Seria difícil para Dell Parsons imaginar o quanto a sua vida se alteraria no dia em que os pais, desesperados, decidem assaltar um banco. A consequente detenção lança sérias ameaças sobre o futuro incerto de Dell, que se verá ainda mais desamparado após o repentino desaparecimento da sua irmã gémea.
  Mas Dell não ficará sozinho: uma amiga da família decide resgatá-lo do desnorte, levando-o numa viagem de autodescoberta ao longo da fronteira do Canadá, com o objetivo de lhe oferecer novas perspetivas de vida. É durante essa viagem pelas pradarias de Saskatchewan que Dell é recebido por Arthur Remlinger, um norte-americano que transporta doses iguais de carisma e mistério.
  A procura de harmonia e paz, debaixo do vasto céu azul da pradaria, parece revelar-se infrutífera à medida que Dell vai cedendo à vertigem de Remlinger e aos tormentos e impulsos homicidas que ele inspira. Conseguirá Dell descobrir a força de carácter necessária para reencontrar um rumo para a sua vida?

  Com Canadá, Richard Ford, um dos mais importantes ficcionistas norte-americanos, oferece-nos a sua mais recente obra-prima.


Autor: Richard Ford
Editor: Porto Editora (Março, 2014)
Género: Romance
Páginas: 432
Original: Canada (2010) [Goodreads] [WOOK]

   

Opinião
My rating: 3 of 5 stars
'Canadá' contrapõe destino e livre arbítrio, avaliando como a combinação de ambos encaminha as nossas vidas num determinado sentido, levando-nos a atravessar várias fronteiras, sejam elas físicas, emocionais ou morais.

O livro começa de forma muito intrigante quando o narrador revela que os seus pais, pessoas simples e comuns, foram os responsáveis pelo assalto a um banco. Daqui, Dell parte para a descrição da disfuncional dinâmica familiar. Os seus pais são, na verdade, pessoas que, por serem tão diferentes e incompatíveis, nunca se deviam ter unido, mas a gravidez de gémeos em tão tenra idade levou-os a precipitarem-se para o casamento. Assim, enquanto nos descreve uma família fadada ao fracasso, Dell conta-nos também a série de más decisões, má sorte e maus instintos que desencadearam os dramáticos e traumáticos acontecimentos que mudariam a sua vida para sempre.

Apesar de muito bem escrito, a leitura de 'Canadá' revelou-se frustrante em algumas alturas devido à lentidão de desenvolvimento, às descrições desnecessariamente extensas e à repetição de argumentos. O leitor é aliciado com futuras situações que depois demoram uma eternidade a chegar… Mas tirando esta falta de desenvoltura na narração dos acontecimentos, 'Canadá' é a interessante partilha de recordações e introspeções de Dell, agora com 65 anos de idade, em relação ao rumo que a sua vida tomou a partir do assalto, quando ele tinha 15 anos, tendo também em conta as informações que recolheu mais tarde em jornais ou revistas e através do que a sua mãe escreveu.

Dell tenta explicar-nos como o assalto ao banco se tornou uma ideia aceitável para os pais e tenta interpretar o que presenciou quando era garoto mas que não tinha realmente maturidade para compreender completamente e como a sua vida se foi adaptando sem que ele tivesse grande controlo, tanto em casa, na América, como depois de fugir para o Canadá que representa, e não apenas para Dell, um refúgio onde é possível começar de novo, olhando apenas para o futuro, deixando os problemas do passado para trás.

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