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0 A incrível viagem do faquir que ficou fechado num armário Ikea + opinião

O maior fenómeno de popularidade da literatura francesa atual. 
  Ajatashatru Larash Patel, faquir de profissão, que vive de expedientes e truques de vão de escada, acorda certa manhã decidido a comprar uma nova cama de pregos. Abre o jornal e vê uma promoção aliciante: uma cama de pregos a €99,99 na loja Ikea mais próxima, em Paris. Veste-se para a ocasião - fato de seda brilhante, gravata e o seu melhor turbante - e parte da Índia com destino ao aeroporto Charles de Gaulle. 
  Uma vez chegado ao enorme edifício azul e maravilhado com a sapiência expositiva da megastore sueca, decide passar aí a noite a explorar o espaço. No entanto, um batalhão de funcionários da loja a trabalhar fora de horas obriga-o a esconder-se dentro de um armário, prestes a ser despachado para Inglaterra. Para o faquir, é o começo de uma aventura feita de encontros surreais, perseguições, fugas e aventuras inimagináveis, que o levam numa viagem por toda a Europa e Norte de África. 
   A incrível viagem do faquir que ficou fechado num armário IKEA é uma aventura rocambolesca e hilariante passada nos quatro cantos da Europa e na Líbia pós-Kadhafi, uma história de amor mais efervescente do que a Coca-Cola, mas também o reflexo de uma terrível realidade: o combate travado por todos os clandestinos, últimos aventureiros do nosso século.

Autor: Romain Puértolas
Editor: Porto Editora (Setembro, 2014)
Género: Romance
Páginas: 208
Original: L'extraordinaire voyage du fakir qui était resté coincé dans une armoire Ikea (2013) [Goodreads] [Wook]

opinião
(4 em 5)
My rating: 4 of 5 stars

Esta terá que ser a viagem, tanto no seu sentido literal como abstracto, mais alucinada que acompanhei...!

Ajatashatru tem vivido de extorsão desde que, com simples truques de magia, convenceu o povo da sua pequena aldeia indiana de que é uma espécie de semi-deus. Desta vez convenceu-os de que aquilo que precisa mesmo é de uma cama de pregos - que eles deverão patrocinar, claro. E é assim que Ajatashatru acaba por viajar para Paris para ir ao Ikea, onde encontra o móvel que lhe servirá de transporte para a Grã-Bretanha, onde se mete nos apuros que o levam à Espanha, onde encontra a mala Louis Vuitton que lhe servirá de transporte para a Itália, onde encontra o balão de ar quente que o levará ao meio do mar da costa italiana, onde encontra o navio cargueiro que o levará até à Líbia...Estão agora a perceber o que eu queria dizer com viagem alucinada, certo?!

O ritmo é impetuoso, a escrita vibrante, o conteúdo divertido e as personagens vívidas; Romain Puertólas expôs o ridículo, traçando-o com inteligência. À medida que Ajatashatru nos parece cada vez mais ensarilhado, o autor vai passando superficialmente, em tom leve e óbvio, por tópicos como a migração ilegal, o abuso de crianças, o tráfico humano, a miséria em que se vive na Índia e o preconceito racial. São temas que nunca vi serem tratados com tão pouca deferência, dramatismo e apelo ao sentimentalismo mas preservando, ainda assim, a relevância e magnitude da mensagem.

E se nos deixássemos também de preconceitos em relação à literatura e desfrutássemos cada livro por aquilo que ele é?!


 Romain Puértolas nasceu em Montpellier, em 1975. Quando era novo, queria ser cabeleireiro-trompetista, mas o destino trocou-lhe as voltas. Oscilando entre a França, a Espanha e a Inglaterra, foi sucessivamente DJ, compositor-intérprete, professor de línguas, tradutor-intérprete, comissário de bordo, mágico, antes de tentar a sua sorte como cortador de mulheres num circo austríaco. Rapidamente despedido por ter mãos escorregadias, resolve dedicar-se à escrita compulsiva. Autor de 450 romances num ano, ou seja, 1,2328767123 romances por dia, consegue finalmente arrumar os seus próprios livros numa estante Ikea. Infelizmente, despojado de 442,65 dos seus romances por extraterrestres dotados de uma inteligência e um gosto bem acentuados, Romain Puértolas vê-se reduzido a uma estante estilo caixote de pêssegos periclitante e desesperadamente vazia. Segue atualmente uma carreira de agente da polícia em França e só tem uma coisa em mente: encontrar aqueles que perpetraram o golpe…

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