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2 Persuasão + Opinião

Persuasão É em «Persuasão», o último romance acabado de Jane Austen, que encontramos a sua heroína mais notável - Anne Elliot. Sobre ela escreveu, um dia, a autora: "ela é quase demasiadamente boa para mim." No entanto, naquela que é a sua obra mais amadurecida, que descreve uma órbita de afastamento nítida em relação ao tom predominantemente satírico dos seus anteriores romances, Austen trata o carácter e os afectos da protagonista de uma forma que, sem perder totalmente de vista a ironia é, sem sombra de dúvida, muito mais terna, e anuncia já uma percepção mais aberta e dinâmica da personalidade e comportamentos humanos. Uma história de amor, desenvolvida com profundidade e subtileza, proporciona o campo ideal para um estudo refletido, que sustenta na sua linha de horizonte o complexo relacionamento entre os dois sexos, e no qual homem e mulher surjem como seres moralmente análogos.


Autor: Jane Austen
Editor: Editorial Presença (2007)
Género: Romance (clássico)
Páginas: 256
Original: Persuasion (1817)


Opinião

Sete anos depois de ter sido persuadida pela família a declinar o sincero pedido de casamento do capitão Wentworth, devido à falta de título e fortuna por parte do mesmo, Anne Elliot descobre que o tempo falhou em torná-la indiferente ao seu primeiro amor… Lamentavelmente este reencontro deve-se ao desejo de Wentworth encontrar finalmente uma noiva - uma rapariga respeitável e inteligente, outra que não Anne!

Persuasão espelha magnificamente todo o talento de Austen. Mais uma vez, encontramos uma crítica subtil à inactividade dos lordes, às vidas pacíficas que escolhiam viver. O fútil, vaidoso e inútil Sir Walter Elliot contrasta garridamente com a iniciativa de Wentworth que subiu na carreira de oficial da marinha até conquistar a sua própria fortuna. Apesar dos indiscutíveis méritos, Austen repercute a pobre e injusta opinião nacional da altura sobre a marinha através de algumas das suas personagens, tal como fez em O Parque de Mansfield.

Podemos encontrar em Persuasão temas abordados em outros livros da autora e podemos também identificar nas personagens facetas que já havíamos observado em personagens de outros livros de sua autoria: a importância da hierarquia social e a distinção entre classes volta a tomar um dos papéis centrais; a protagonista, Anne, é a típica heroína de Austen, inteligente, simples, sensível, humilde, honesta e caridosa; o verdadeiro carácter (o falta do mesmo) de algumas das personagens é revelado praticamente no final; a ridicularização da futilidade é realizada através de personagens colaterais.

Na base do livro encontramos uma linda história de amor; um amor perdido mas reencontrado - o adiamento forçado da sua manifestação em pleno. Quando voltam a encontrar-se, Wenworth e Anne amam-se à distância com a mesma intensidade de antes, enquanto se ignoram, desdenham e cobiçam mutuamente em segredo. Austen traz-nos tudo isto numa época em que o amor não era uma prioridade no casamento...cimentando a sua importância ao rodear o magnífico casal protagonista de casamentos falhados, uniões por conveniência entre indivíduos incompatíveis.

Contudo, apesar de ter gostado imenso de Persuasão, gostei ainda mais de O Parque de Mansfield, julgo que pela componente cómica que não está tão patente em Persuasão, onde a idade dos protagonistas exige também um tom mais sério, que nos confira a sensação da fatalidade que seria para uma mulher já não ter idade para casar.

Em compensação, os momentos de introspeção de Anne são muito ricos; através de debates entre as suas personagens, Austen aborda temas interessantíssimos como a posição da mulher (Anne vs Harville) e a poesia (Anne vs Benwick). Também as mudanças que decorriam na sociedade em mudança e as diferentes facções de pensamentos que se iam criando foram muito bem caracterizadas pela autora.
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2 comentários:

  1. Quero muito ler este livro! ;) ainda bem que gostaste!! :D

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