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2 A Melodia do Amor

«Liverpool, 1893. Os sonhos de Beth são desfeitos quando ela, o irmão Sam e a irmã mais nova, Molly, ficam órfãos. As suas vidas, até então tranquilas e seguras, sofrem uma dramática reviravolta. Para escapar a um futuro de miséria e servidão, Sam e Beth decidem arriscar tudo, atravessar o Atlântico e partir à conquista do sonho americano. Mas Molly é demasiado pequena para os acompanhar e os irmãos vêem-se obrigados a tomar uma decisão que os marcará para sempre: deixá-la em Inglaterra, a cargo de uma família adoptiva.

A bordo do navio para Nova Iorque não faltam vigaristas e trapaceiros, mas o talento de Beth com o violino conquista-lhe a alcunha de Cigana, a amizade de Theo, um carismático jogador de cartas, e do perspicaz Jack. Juntos, os jovens vão começar de novo num país onde todos os sonhos são possíveis.

Para a romântica Beth, esta será a maior aventura da sua vida. Conseguirá a Cigana voltar a encontrar um verdadeiro lar?»


Autor: Lesley Pearse
Editora: Edições ASA (2011)
N.º Páginas: 520
Título Original: Gypsy


A Minha Opinião:

Classifico este livro apenas com três estrelas porque, e depois de já ter livro todos os livros de Lesley Pearse publicados em Portugal, começa-me a parecer que a autora tem tendência para repetir a receita Melodia do Amor é demasiado parecido com Segue o Coração! E não muito diferente de Nunca Me Esqueças. Nos dois primeiros ambas as raparigas são inglesas, pobres, que viajam para a América em busca de uma vida melhor e acabam envolvidas na febre da corrida ao ouro, além de muitas outras semelhanças. Pearse dá-nos mais vez uma jovem pobre, ingenuamente gentil, que sofre sem medida durante todo o livro até se sentir confortável na vida…

Tenho pena que, mais uma vez, a tradução do título de um dos livros de Lesley Pearse tenha caído num rótulo romântico quando o original é Gypsy, transmitindo toda a força e garra da protagonista. Pelo contrário, Melodia do Amor transmite-nos uma falsa ideia de romance cor-de-rosa.

As capas das traduções portuguesas dos livros de Lesley têm sido bastante bonitas, simples mas chamativas. Mas desta vez lamento que a capa escolhida para a versão portuguesa de Melodia do Amor seja igual à capa da versão original de um outro livro de Lesley Pearse: Belle (ainda sem publicação em Portugal).

É verdade que com Lesley já sabemos que podemos contar com um bom livro. Este é de fácil leitura, com uma escrita forte mas composta de frases simples. A autora consegue manter o interesse na leitura,  sem baralhar ou perder o leitor, apesar de nos apresentar vários pontos de vista (Beth, Sam e Jack), embora o de Beth seja o predominante. É interessante seguir o duelo entre valores morais entre Beth e o irmão, Sam, quando chegam a Nova Iorque. 

O ritmo do livro pode ser contudo, aborrecido - ao passo que em algumas partes parece que estamos presos numa situação que teima em não se desenvolver, noutras, quando reparamos, já acabou tudo antes sequer que nos apercebamos do que estava a acontecer.

Lesley consegue transportar-nos para 1893, mas com alguma deficiência na descrição de cenários e vestuário da época. A parte rica da escrita descritiva vai para as zonas mais pobres e degradadas e para as condições em que as pessoas viviam nestes locais - estas descrições são interessantes, realistas, mas muito semelhantes às de Segue o Coração. Além disso, a autora abusa demasiado dos estereotipos - os irlandeses, por exemplo, são todos retratados como barulhentos e alegres, que gostam de ouvir música e beber álcool em excesso.

Além da protagonista Beth, o livro destaca três personagens masculinas que acompanhamos ao longo de quase toda a história. Lesley conseguiu realizar uma ótima distinção dos rapazes entre si e também transmitir a diferença entre eles próprios de jovens rapazes para homens adultos - a caracterização e distinção destas personagens está muito bem executada!

Lesley leva-nos a gostar do patinho-feio Jack, não por meio de uma descrição simpática da sua personalidade mas pelas ações dele ao longo de todo o livro. Com Jack, podemos observar a importância que podemos ter na vida dos outros, como podemos tocar a sua existência e, mesmo que inconscientemente, alterá-la para sempre. É certo que levamos algum tempo a afeiçoarmo-nos a Sam, a personagem mais difícil de tolerar, devido à sua faceta gabarolas, futilidade. Mas a sua inocência e amor integral pela irmã acaba por cativar o leitor. E o suspense sobre o verdadeiro carácter de Theo é uma boa forma de espicaçar o leitor e de manter o interesse no livro - contudo, no final ele constitui mais uma das partes vazias do livro.

É verdade que a menção de Molly (irmã de Beth e Sam) é recorrente ao longo do livro, mas é vazia - não há feedback das cartas que Beth troca com a Inglaterra, não a conhecemos realmente e não sabemos o que se passa na vida dela, o que deixa essa parte da história muito oca e desinteressante.

O livro termina de forma satisfatória, embora se sinta a falta de existência de história paralelas - é narrada apenas a história de Beth e mesmo das personagens com quem se cruza ou que a acompanham apenas nos é relatado basicamente o que influencia a protagonista. 

Uma história bonita, com uma forte protagonista, corajosa e decidida mas com a qual não conseguimos estabelecer uma relação. Apesar das tragédias que desabam sobre Beth é difícil criar uma empatia com ela e com o seu sofrimento porque a dor que ela sente não nos é transmitida, não sabemos o que ela está realmente a sentir e ficamos com a sensação que a história é tão complexa e grandiosa, com uma grande pesquisa por parte da autora, é verdade, que os sentimentos das personagens ficam à margem dos acontecimentos e não fazem realmente parte integral da história. Como se o interesse de Lesley fosse descrever-nos uma sociedade e acontecimentos históricos importantes mas que tanto poderia ser através da vida de Beth como de uma outra qualquer...

Livros de Lesley Pearse Editados em Portugal:

A PromessaSonhos ProibidosNunca Digas AdeusNunca Me EsqueçasProcuro-teSegue o Coração


2 comentários:

  1. Na minha opinião foi o livro da Lesley que até agora menos gostei, mas não por questões culturais ou falta de informação mas por não ser tão cativante como os outros.

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  2. Eu tenho muito contacto com os livros de Lesley, mas a minha opinião é a seguinte: fiquei satisfeita por ter lido esse livro. tudo bem que havia partes em que se tornava um pouco interessante ler, mas não é caso para passar à frente. Apenas com esses pequenos pormenores conseguimos distinguir um dos outros.

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