0 Menina Júlia | Opinião
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4 estrelas,
August Strindberg
Autor: August Strindberg
Editor: Bicho do Mato
Género: Teatro
Páginas: 80
Original: Fröken Julie (1888)
opinião
★★★★☆
Inimigos e amantes, Júlia e João são um produto do seu tempo. Ambos são vítimas das circunstâncias, reféns da sua fraca natureza, exemplos da diferença entre classes.
Júlia aprendeu com a mãe a odiar os homens. É gozada e criticada pelos que a rodeiam, que a vêm como uma excêntrica. João é um mentiroso de duplo carácter, vive preocupado com a sua reputação, quer subir na vida e vê em Júlia – a filha do Conde – um meio para atingir um fim.
Acompanhamos os seus diálogos (propositadamente) incoerentes, os temas a mudar a uma velocidade vertiginosa, consequência da pouca atenção que dão às palavras um do outro. E seduzidos por este conflituoso romance que se desenrola à nossa frente, quando damos por isso já é tarde demais, tudo desmorona. João percebe que o ramo que escolheu como o primeiro para subir na vida estava afinal podre. Júlia, cansada e sem forças, não vê solução além da derradeira saída de cena “Não posso arrepender-me, não posso fugir, não posso ficar, não quero viver…nem morrer” – 77
É notável a habilidade que Strindberg tem para, em poupas palavras, nos deixar com tantas ideias e imagens, transmite-nos astutamente toda a multiplicidade que pretendia, deixando-nos por dentro dos objetivos, esperanças, receios e motivos dos seus personagens. A energia com que escreve e a economia de palavras com que o faz empurra-nos rapidamente para um final que, parecendo-nos que chega depressa demais, tem uma concretização verdadeiramente inquietante.
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Frases Preferidas
“Se é verdade que um ladrão pode entrar no céu e estar ao pé
dos anjos, porque não há-de, nesta terra de Deus, o filho de um camponês
brincar no parque com a filha do conde” – 38
“Se agora me deixasse levar pelo sentimento, deitava tudo a
perder. Temos de encarar toda esta situação friamente, como pessoas sensatas.” –
46
“JÚLIA: E agora despreza-me. Vou a cair. Vou a cair.
JOÃO: Caia até à minha altura, e eu ajudo-a a pôr-se de pé.”
– 47
“As tolices com fantasia é que atraem as mulheres.” – 49
“Não posso negar que estou feliz por afinal ter descoberto
que afinal o que nos deslumbrava cá em baixo era só um reflexo da lua e que o
dorso do falcão é cinzento também, tão cinzento como o pó que o cobre dessa cor
suave, e que as unhas polidas podem encher-se de negro, e que o lenço perfumado
às vezes está sujo.” – 51
“O mundo está cheio de amor, o que tem é que não dura muito.”
- 57
“Se cospe em cima de
mim, não se espante de eu me limpar em si” – 59
“Ah! Fugir é possível, é possível sim, só que as recordações
vão também nas carruagens do comboio, e os remorsos e a culpa” – 66
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