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0 Margarita e o Mestre | Opinião


Margarita e o MestreMargarita e o Mestre publicado pela primeira vez na revista Moskva, mais de vinte anos após a morte do autor — a primeira parte em Novembro de 1966 e a segunda em Janeiro do ano seguinte. Mikhail Bulgákov trabalhara nesta sua obra durante mais de dez anos, tendo escrito diferentes versões. A última foi ditada à sua companheira Elena Bulgákova, quando o autor se encontrava já muito doente, em Março de 1940. O romance é composto por duas narrativas ligadas entre si — uma passa-se na Moscovo dos anos 30 e a outra na Jerusalém antiga. As personagens são estranhas, complexas, ambíguas e algumas delas sobrenaturais, como Woland. As principais são o Mestre e a sua amante, Margarita. Como afirma Samuel Thomas, «o romance pulsa de maliciosa energia e invenção. Por vezes uma dura sátira da vida soviética, uma alegoria religiosa da dimensão do Fausto, de Goethe, e uma indomável fantasia burlesca, é uma obra de riso e terror, de liberdade e servidão — um romance que explode as verdades oficiais com a força de um carnaval descontrolado». A primeira edição desta tradução foi publicada em 1991, estando há muito esgotada. Esta nova edição, integralmente revista pelo tradutor, António Pescada, inclui as alterações que constam nas recentemente publicadas Obras Completas de Mikhail Bulgákov.

Autor: Mikhail Bulgakov
Editor: Relógio D'Água (2007)
Género: Romance
Páginas: 372
Original: Мастер и Маргарита (1967) 


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opinião
★★★★★

É impossível definir merecidamente Margarita e o Mestre devido à sua complexidade, múltiplas camadas e suscetibilidade para imensas e variadas interpretações numa colisão entre política e religião, realidade e fantasia, Bem e Mal. Ao sermos sacudidos por Bulgakov de cenário em cenário e história em história numa sucessão de transições bruscas e inesperadas, rapidamente chegamos à conclusão que a melhor forma de ler este livro é simplesmente deixarmo-nos levar conforme as intenções do seu autor e aproveitar a viagem.

Uma evidente sátira à política e sociedade do seu tempo, este livro contrapõe imaginação e criatividade à letargia e censura imposta pelo regime de Estaline. Ao mesmo tempo que nos submerge na triste e dura realidade, Bulgakov eleva-nos a um mundo de fantasia. O seu tom de crítica e objetivo esclarecedor contrasta, mas deixa-se complementar, pela escapatória que oferece em relação à realidade. Contudo, embora fantasioso, Margarita e o Mestre nunca perde o sentido.

Gostei muito do livro; não pude deixar de ler e reler algumas das suas passagens quer fosse pela beleza que Bulgakov imprimiu na descrição da cena em questão, pela seriedade da mensagem transmitida ou pela comicidade da peripécia narrada.

Claro que não podemos falar de Margarita e o Mestre sem louvar os seus magníficos personagens. Tal como o livro em si, também estes são excecionais, complexos e construídos com propósito. Alegorias e suas pertinências à parte, a minha preferência vai para os «adjuntos» do professor Woland (especialmente Behemot).


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