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Sensibilidade e Bom Senso


"Sensibilidade e Bom Senso", o primeiro livro de Jane Austin, publicado em 1811, conta a alegre e satírica história de duas irmãs. A instintiva e apaixonada Marianne e a sensata e mundana Elinor.
Embora o coração impaciente de Marianne a deixe vulnerável aos males de amor, as qualidades opostas de Elinor também não a protegem dos problemas emocionais.
"Sensibilidade e Bom Senso" - um retrato psicológico e social da pequena-burguesia do século XVIII.

Autor: Jane Austen
Editor: Europa-América (1996)
Género: Romance (clássico)
Páginas: 292
Original: Sense and Sensibility (1811)


Opinião
My rating: 5 of 5 stars

Sensibilidade e Bom Senso pode não ser considerado um dos romances mais brilhantes de Jane Austen mas a interessante dicotomia entre estas duas formas de estar na vida - sensata ou emotiva - acabou por o tornar um dos meus favoritos!

Além da forte crítica ao mundo social em que a própria se inseria, lotado de indivíduos interesseiros e ambiciosos, rigorosos na aplicação das boas maneiras, Austen desenvolve ao pormenor duas índoles opostas bem como as consequências acarretadas pelas reações que estas impulsionam. Depois de Mr. Henry Dashwood deixar a herança ao filho do primeiro casamento as três filhas da segunda união sofrem um considerável empobrecimento do seu nível de vida já que o irmão, Jon Dashwood, não nutria sentimentos fortes por estas parentes e, apesar de ter prometido ao pai que faria tudo o que pudesse para as deixar confortáveis na vida, a sua ganância pessoal acaba por se sobrepor ao prometimento.
'It was very well known that no affection was ever supposed to exist between the children of any man by different marriages'

Elinor Dashwood, a irmã mais velha, é uma jovem inteligente, dada a julgamentos previdentes e ajuizados ('common sense, common care, common prudence, were all sunk in Mrs Dashwood's romantic delicacy.') enquanto que Marianne, a irmã do meio, é demasiado sensível para o seu próprio bem, muito pouco prudente e frenética na sua expectativa de felicidade. Elinor aproxima-se do irmão da cunhada, Edward Ferrars, mas opta sensatamente por se afastar ao perceber que a mãe dele deseja para o filho uma esposa muito rica ou de elevado estatuto social, quando ela não é uma coisa nem outra. Já Marianne, ignora completamente o amor do modesto coronel Brandon - um homem honesto e dedicado, 'whom everybody speaks well of and nobody cares about', em prol do vivaço Willoughby, um jovem bonito e gracioso 'exactly formed to engage Marianne's heart', cheio de si próprio e sem vergonha de o expor. Mas se o casamento de Elinor com Edward não é possível, principalmente após Elinor descobrir que Edward está secretamente comprometido com Lucy, há também qualquer coisa muito estranha entre a falta de comprometimento de Willoughby para com Marianne…!

Jane Austen fez um excelente trabalho em confundir-nos sobre o que é mais desejável num caráter - o bom senso ou a sensibilidade. Começamos por associar estas individualidades apenas às duas irmãs mas depressa as começamos a atribuir a cada uma das outras personagens. Como Elinor avalia muito bem as suas respostas e Marianne responde a tudo e a todos de forma excessiva somos induzidos a achar o carácter de Elinor preferível, mas se olharmos com atenção, começamos a pensar que um comprometimento entre os dois seria o ideal:
- a forma como Elinor e Marianne se comportam influencia a resposta de quem as rodeia. Assim, a dor de Marianne atinge grande importância para os outros ao passo que Elinor sofre sozinha e, mesmo que a sua dor seja conhecida, é ignorada. Elinor tem ainda que cumprir as suas obrigações sociais, fazendo sala, enquanto Marianne tem o luxo de se poder refugiar na solidão, sem se importar em manter as aparências.
- há um enorme contraste moral entre o egoísmo de Marianne, ainda que este nem sempre seja racional, e o altruísmo de Elinor.
- Elinor esforça-se por compreender e aceitar todos à sua volta enquanto que Marianne legitima apenas quem se comporta ou pensa da mesma forma que ela. No entanto, a intolerância de Marianne não a obriga a lidar com quem lhe desagrada como acontece com a irmã, especialmente em relação a Lucy com quem Elinor, apesar de ter razão, se comporta de forma cínica, fria, manipuladora e calculista. Foi por isso mesmo que a terrível Lucy optou por partilhar o seu segredo com Elinor; conhecendo a 'rival' sabia que a indiscrição não iria conferir vantagem a Elinor mas acabaria por a comprometer e resumir ao silêncio…Até quando chega a hora de perdoar Willoughby, Elinor é muito mais compreensiva do que Marianne.
- Marianne esperneia para ser ouvida enquanto Elinor colhe as eventualidades em silêncio, mesmo que isso comprometa a sua felicidade.

Com os personagens masculinos centrais também sofremos a ponderação entre ser radicalmente assertivo ou de comportamento mais modesto. A moral de Willoughby podia estar corrompida ('the world had made him extravagant and vain; extravagance and vanity had made him cold-hearted and selfish.') e o calibre dos seus sentimentos podia ser dúbio como o próprio questiona - '(…) had I really loved, could I sacrificed my feelings to vanity, to avarice?' - mas colocava paixão em tudo o que fazia, ao passo que tanto Brandon como Edward viviam conformados numa existência desmaiada.

Enfim! Gostei muito deste livro, obrigou-me a estar atenta aos comportamentos diretos e indiretos dos personagens, a colocá-los em perspetiva e a observar que tipo de reação levava ao sucesso ou ao fracasso. A escrita é absolutamente encantadora - perspicaz mas poética, com uma beleza funcional que não se destina apenas a encantar o leitor…embora, claro, acabe por fazê-lo!


Frases Preferidas...
'To wish was to hope, and to hope was to expect.' 
'Seven years would be insufficient to make some people acquainted with each other, and seven days are more than enough for others.' 
'And Books! (…) she would buy them all over and over again; she would buy up every copy, I believe, to prevent their falling into unworthy hands' 
'Know your own happiness. You want nothing but patience - or give it a more fascinating name, call it hope.' 
'(…) for when people are determined on a mode of conduct which they know to be wrong, they feel injured by the expectation of anything better from them.' 
'I know we shall be happy. I know the summer will pass happily away.' 
'(…) for though a very few hours spent in the hard labour of incessant talking will dispatch more subjects than can really be in common between any two rational creatures, yet with lovers it is different. Between them no subject is finished, no communication is even made, till it has been made at least twenty times over.'

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