0 Chamavam-lhe Grace | Opinião
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Margaret Atwood,
Opinião,
Romance
Corre o ano de 1843 e Grace Marks foi condenada pelo seu envolvimento no brutal homicídio do dono e da governanta da casa onde trabalha. Há quem julgue Grace inocente; outros dizem que é perversa ou louca. Agora a cumprir prisão perpétua, Grace diz não ter qualquer memória do crime. Um grupo de clérigos e espíritos que lutam para que Grace seja perdoada contrata um especialista em saúde mental, uma área científica em expansão na época. Ele escuta a sua história, fazendo-a recuar até ao dia que ela esqueceu. O que encontrará ele quando tentar libertar as memórias de Grace?
Autor: Margaret Atwood
Editor: Bertrand Editora (2018)
Género: Romance
Páginas: 480
Original: Alias Grace (1996)
Man Booker Prize Nominee (1996), Orange Prize Nominee for Fiction Shortlist (1997), Scotiabank Giller Prize (1996), James Tiptree Jr. Award Nominee for Longlist (1996), Governor General's Literary Awards / Prix littéraires du Gouverneur général Nominee for Fiction (1996) International DUBLIN Literary Award Nominee for Shortlist (1998), Mikael Agricola -palkinto (1998)
Opinião
★★★☆☆
Não é difícil sentirmo-nos atraídos pela premissa deste livro, baseado numa história verídica, depressa damos por nós curiosos por conhecer a identidade do assassino, como foi perpetrado este hediondo ato e quais as motivações por detrás do mesmo. A parte «difícil» deste livro – e assim começo por apontar já o que não gostei – é avançar página após página no quotidiano de Grace, acompanhando-a nas suas simples e aborrecidas tarefas domésticas, enquanto começamos a reparar que, na verdade, pouco acontece, muito pouco é explicado ou resolvido e que embora fale muito, na verdade, Grace diz-nos muito pouco.
Claro que é importante ficarmos por dentro dos acontecimentos que foram marcando Grace ao longo da sua vida e como aprendeu a proteger-se numa época de tão manifesta desigualdade social e de género. Ao acompanhá-la desde cedo, ingénua e influenciável, trabalhadora e esforçada, vemos como cresceu a cada adversidade e como, em adulta, embora pouco instruída, é bastante inteligente, com grande sensibilidade para ler os que a rodeiam e possivelmente manobrá-los conforme as suas intenções ou necessidade.
No decurso dos episódios narrados vamos questionando as suas intenções e carácter. Nunca me senti completamente confortável na presença de Grace, mantendo-me de pé atrás, sempre à procura de indícios do seu verdadeiro carácter, mas solidária com todas as injustiças que foi sofrendo. Colocar a índole de Grace subtilmente em dúvida ao mesmo tempo que nos leva a simpatizar com a personagem é algo que a autora faz de forma brilhante.
…Mas o livro é monótono, a leitura torna-se aborrecida e, embora perceba que a monotonia pode ter o seu papel na criação da atmosfera que Atwood queria alcançar, preferia que, então, tivesse encurtado um bocadinho o livro.
O que quero dizer com isto tudo é que, embora aprecie a história e o talento da escrita da autora, mais do que óbvio em cada página deste livro, não me deu especial prazer lê-lo. É um bom livro, conta uma história genuinamente interessante, mas não o vou recordar como um livro que tenha gostado de ler.
“Não há pior palerma do que um palerma instruído” – 79
“Uma viagem por mar e uma prisão podem ser maneiras de Deus nos recordar que somos feitos de carne, que toda a carne é como a erva e toda a carne é fraca.” – 125
“São hipócritas, pensam que a igreja é uma gaiola para manter Deus lá dentro, fechado à chave para não andar a deambular pelo mundo, durante a semana, a meter o nariz nos seus assuntos e a olhar para as profundezas, a escuridão e a falsidade dos seus corações e para a sua falta de verdadeira caridade. E estão convencidos de que só precisam de se preocupar com Ele aos domingos, quando vestem a melhor roupa, fazem uma cara séria, lavam as mãos, calçam as luvas e preparam muito bem as suas histórias.” – 264
“O que não se pode curar, tem de se suportar” - 271
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