0 Confissão de um Assassino | Opinião
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Confissão de um Assassino, romance até hoje inédito em Portugal, é, ao estilo dos grandes romances russos, simultaneamente uma poderosa análise da natureza humana e do poder hipnótico do Mal e um retrato vívido e agitado dos modos e dos acontecimentos mais marcantes de uma época, da Revolução bolchevique ao ambiente de Paris que antecede a Primeira Guerra Mundial.
Autor: Joseph Roth
Editor: Cavalo de Ferro (Janeiro, 2018)
Género: Romance
Páginas: 144
Original: Beichte eines Mörders, erzählt in einer Nacht (1936)
Opinião
★★★☆☆
Confissão de um Assassino by Joseph Roth
My rating: 3 of 5 stars
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My rating: 3 of 5 stars
Joseph Roth senta-nos genuinamente à mesa com estes homens, atentos e curiosos com a história de Golubchik, o Assassino. Acreditando desde muito cedo ser filho ilegítimo de um príncipe e sentindo-se protegido por este, decide viajar até Odessa para que o príncipe Krapotkin o reconheça finalmente como seu filho. Infelizmente para Golubchik o resultado desta viagem acaba por não ser o esperado; pior, desencadeia três episódios determinantes na sua vida: conhece o afilhado do príncipe (por quem sente um ódio imenso), conhece o surreal Lakatos (que o conduz rumo ao Inferno) e acaba por ser recrutado para a Okhrana.
Vaidoso, arrogante, mesquinho, por vezes irracional e pérfido, a sua posição profissional dá-lhe finalmente o poder necessário para concretizar o ódio pelo afilhado do príncipe e denuncia-o de frequentar os círculos revolucionários. Mas mais uma vez, os planos de Golubchik saem furados e o castigo resultante (embora inicialmente não o veja deste modo) é a perseguição até Paris da mulher que ama - aquela que será a precursora do crime de homicídio que nos sentámos todos para ouvir contar.
A voz da consciência que me alertava para a possibilidade de me estar a dirigir para um duplo ou triplo cativeiro: em primeiro lugar, o da minha insensatez, da minha indiscrição e da minha perversidade, relativamente às quais estava já, de certo modo, acostumado; em segundo, o do meu amor; e, em terceiro, o da minha profissão - 89
Confissão de um Assassino é uma narrativa muito competente que nos envolve - sem esquecer nunca o contexto histórico em que se insere - numa trama de justiça, culpa e vingança movidas por paixões exaltadas e distúrbios de identidade.
Não obstante, Golubchik acaba por despertar a nossa compaixão: «É cruel a natureza humana, meus amigos, pois, mesmo quando nos damos conta de quão maus fomos, continuamos a ser maus. Somos seres humanos. Bons e maus. Nada mais do que seres humanos» (página 64).
Frases Preferidas:
A vida privada de um homem, a sua simples humanidade, é mais
importante, maior e mais trágica do que todas as questões públicas do mundo -
p. 13
Todos os feitos nobres e desprezíveis que alteraram, de
alguma forma, a história do nosso mundo são o resultado de acontecimentos sem
importância que ignoramos - 14
Sabe, meu amigo, a natureza é mais generosa quando nos
atribui uma deformidade. Se tivesse vindo ao mundo perfeito, provavelmente não
teria aprendido nada - 31
Porque o amor, meus amigos, não nos cega, como afirma o
adágio absurdo. Pelo contrário, faz-nos ver. - 63
É cruel a natureza humana, meus amigos, pois, mesmo quando
nos damos conta de quão maus fomos, continuamos a ser maus. Somos seres
humanos. Bons e maus. Nada mais do que seres humanos. 64
Podemos ser felizes enredados no ciúme, e até justamente em
virtude dele. O sofrimento gera-nos tanta alegria quanto a felicidade - 94
Seria melhor para um homem entregar-se ao seu inimigo mais
cruel do que deixar uma mulher perceber que ele a ama - 67
Desde aquele momento, passei a acreditar que as cores do
Inferno, que verei certamente com os meus próprios olhos, são o preto, o branco
e o vermelho; e que, em muitas zonas desse território infernal, só pode ser,
aqui e ali, o contorno triangular das costas de uma mulher, bem como esponjas
de pó-de-arroz - 68
Nunca vemos tudo tão clara e friamente como quando
pressentimos o abismo negro debaixo dos nossos pés - 73
Sempre houve e haverá magia em cada palavra falada e, ainda
mais, em cada palavra escrita - 85
A nossa imaginação é sempre mais poderosa que a nossa
consciência - 88
Mas as mulheres - e, para ser justo, também os homens -,
embora prefiram pessoas genuinamente sinceras, não gostam de escutar confissões
sinceras de mentirosos e hipócritas - 118
Creio que um homem virtuoso é tão incapaz de explicar a sua
acção mais nobre como um miserável da minha laia a mais vil das suas infâmias -
120
Em bom rigor, vivi a maior - se preferirem, a mais profunda
- das tragédias: a tragédia da banalidade - 136
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