Destaques

0 As Minhas Leituras - Julho 2015





Em Julho decidi comprometer-me a dar um avanço na pilha de livros que tenho por ler. Falo em sentido literal pois - e já vos disse isto antes - mantenho os meus livros (não lidos) em pilhas; três demasiado instáveis Torres de Pisa literárias, para ser mais exacta. Só não resisti a dois novos lançamentos, Ligeiramente Tentador e Objetos Cortantes



A Festa da Insignificância despertou o meu interesse pelo trabalho de Milan Kundera e A Insustentável Leveza do Ser é o meu terceiro livro do autor. A BIS tem excelentes edições de bolso, a bom preço, que representam uma óptima oportunidade para ler algo com substância. 
Este é um daqueles livros que, por muito que eu ficasse aqui a falar dele, não lhe poderia fazer justiça. Kundera alterna de forma fascinante entre filosofia e crítica política, entre história e História, recorrendo a várias perspectivas, avançando e recuando no tempo. Em apenas 391 páginas o autor deu-nos conteúdo para horas e horas de conversa e reflexão pessoal.

A Insustentável Leveza do Ser
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Também cheio de conteúdo, temos Herzog de Saul Bellow. Um livro rico em reflexões e filosóficas que espelham bem a nossa complexidade e os extremos que nos compõem. Enquanto tenta lidar com a traição e rejeição da ex-mulher e luta pela custódia da filha, Herzog cai em desequilíbrio mental e instabilidade emocional; a sua vida pessoal desmorona-se à sua volta, não encontra lugar nesta sociedade materialista e decadente, o mundo parece-lhe caótico e não consegue compreender o sentido da sua própria existência. Ao contemplar o passado, passa em revista os muitos falhanços da sua vida, nos vários papeis que desempenhou, os desapontamentos que sofreu e as desilusões que ele próprio provocou.


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Tendo em conta o tamanho de Os Apanhadores de Conchas não percebo como é que posso ter demorado tanto tempo a lê-lo, assim, culpo a minha falta de afinidade com a história e consequente falta de entusiasmo pela leitura. Reuninco vários elementos com potencial para me agradar - romance impossível, vida familiar, arte, Segunda Guerra Mundial - também acho estranho o pouco impacto que o livro teve sobre mim. 
Em Os Apanhadores de Conchas lemos sobre uma mulher que está no final da vida e decide embarcar numa viagem ao passado. A Segunda Guerra empurrou-a para um casamento que não ocorreria de outra forma e impediu-a de ficar com o homem que realmente amava.
Resumindo, não desgostei, mas não o achei fantástico...

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Não sei como é que me esqueci de Herdeiros do Ódio, o primeiro livro da série Dollanganger, mas a verdade é que só me recordei da sua existência quando passei os olhos por ele numa das tais afamadas pilhas. Livros a mais! acusaria a minha mãe com presunção, sem saber que mentalmente lhe respondo sempre da mesma forma: e, ainda assim, não são suficientes...
É notável como em Herdeiros do Ódio, sem grande renovação de cenários ou personagens, V. C. Andrews consegue criar uma história que nos prende do princípio ao fim... e que ainda nos surpreende no final. Este foi um livro que andei a ler por todo o lado, desejosa de regressar à história sempre que era obrigada a afastar-me. É diferente do que tenho lido, original e bem construído - gostei muito e estou ansiosa para ler o próximo!

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As férias em Londres inspiraram-me a ler dois livros que já tenho há imenso (!) tempo e que sempre considerei prioritários mas que ainda assim acabei por colocar sempre atrás de outras leituras. 
A caminho da National Gallery passei pelo Playhouse Theatre onde está em cena 1984 , a adaptação do livro de George Orwell, e decidi que quando regressasse a casa iria finalmente pegar no livro. 
1984 é uma sátira escrita em forma de aviso, expondo possibilidades terríveis, mas não completamente originais, sobre a submissão intelectual do povo, a omnipresença do governo que oprime e controla sem medida, difundindo a sua mensagem através de exaustivas campanhas. 1984 alerta-nos para o perigo dos terríveis -ismos (do comunismo, do fascismo, do nazismo, …, enfim, do totalitarismo), demonstra a relevância da linguagem como concretizador de pensamentos e chama a atenção para a importância de mantermos a nossa identidade, a nossa memória sobre o passado e conhecimento sobre a História.

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O segundo livro inspirado pelas férias foi Star Wars, graças à visita à exposição no Madame Tussauds com cenas dos filmes.

Exposição Star Wars (Madame Tussauds)

Creio que este livro, e outros da saga, se destinam aos que já são fãs de Star Wars já que não fazem - e muito dificilmente fariam - justiça à diversidade e complexidade estética das personagens ou dos cenários presentes no filme. Há vários elementos que, no livro, não funcionam, ou pelo menos não com o mesmo impacto.
Esta edição traduzida tem vários erros ortográficos, o que é duplamente irritante quando temos em conta que se trata de uma suposta «edição especial»… Além disso, a tradução de Jabba, the Hutt para Jabba, o Cabana irritou-me (!!!). Além de ser uma edição de 1997 (21 anos depois do original ter sido publicado, portanto houve tempo para tradução/edição/revisão), Hutt tem dois tt e não um - logo, nunca poderia ser traduzido para Cabana… e um bocadinho de interesse da tradutora pelo seu trabalho - e já agora, algum brio profissional - podiam tê-la levado à conclusão de que Hutt é o nome da espécie de Jabba…

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... E chegamos finalmente aos dois novos lançamentos a que não resisti!

Ligeiramente Tentador é o quarto livro da saga dos irmãos Bedwyn, uma série de romances históricos que tenho vindo a devorar a cada novo lançamento. Com uma escrita polida, que se adequa à época em que decorrem os seus romances, Mary Balogh consegue tirar partido de vários pormenores históricos interessantes, sem tornar a leitura fastidiosa.

A saga Bedwyn
A série volta a ter aquilo que mais me agradou nos primeiros livros: permite-nos observar o desabrochar de um amor que vai crescendo, sem pressas, à medida que os protagonistas vão convivendo. Este é um daqueles livros que nos permite relaxar e seguir a história de forma descomprometida.

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Desde Em Parte Incerta que, cada livro que seja lançado em Portugal de Gillian Flynn, salta imediatamente para o meu cesto de compras na Wook, ainda em pré-venda!
A autora tem vindo a criar thrillers fantásticos, aprimorados por uma escrita direta e mordaz que espelha na perfeição as personagens que se compromete a construir.

livros de Gillian Flyn publicados em Portugal
Objetos Cortantes é um livro que mexe definitivamente com os nervos do leitor, dando-lhe ganas de interceder e aplicar o seu próprio sentido de justiça. Gostei especialmente que, correndo o risco de frustrar os leitores que gostam de finais felizes, Flynn se tenha mantido fiel à personagem em vez de embarcar num desfecho hipócrita que só roubaria credibilidade aos problemas de Camille. Como se tornou hábito, Flynn não permite que a vida das suas personagens se detenha no último ponto final, oferecendo-nos a ilusão de que continuam com as suas existências, a enfrentar os seus demónios... 

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0 Man Booker Prize 2015 - shortlist

Manbooker official logo
  
Já são conhecidos os 13 candidatos ao Man Booker Prize deste ano, escolhidos a partir de um total de 156 livros considerados.
  Tal como no ano passado, o prémio está aberto a autores de todas as nacionalidades, cujo livro tenha sido escrito originalmente em inglês. Desta forma, entra pela primeira vez na lista um nomeado jamaicano (Marlon James) e uma nomeada marroquina (Laila Lalami).
  Anne Enright, já vencedora de um Man Booker Prize em 2007 pelo seu trabalho 'Corpo Presente', volta a figurar na lista, juntamente com Tom McCarthy , Marilynne Robinson e Andrew O'Hagan, três candidatos em anos anteriores.
  O nome do vencedor será anunciado no dia 13 de Outubro, numa cerimónia emitida pela BBC a partir de Guildhall, em Londres. 

➤ Anne Tyler (EUA) - A Spool of Blue Thread 
     - Em Portugal estão publicados Exercícios de RespiraçãoJantar no Restaurante da SaudadeLugares de PassagemÀ Procura de CalebNavegação CelestialO Peso dos AnosNo Tempo em que Éramos Adultos A Bússola de Noé.

➤ Marlon James (Jamaica) - A Brief History of Seven Killings 

➤ Tom McCarthy (Reino Unido) - Satin Island 

➤ Chigozie Obioma (Nigéria) - The Fishermen 

➤ Sunjeev Sahota (Reino Unido) - The Year of the Runaways 

➤ Hanya Yanagihara (EUA) - A Little Life






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0 Herzog + Opinião


  Publicado pela primeira vez há exatamente 50 anos e considerado um dos maiores romances de Saul Bellow, Herzog conta a história de Moses Herzog, intelectual de muitos conflitos e de sofrimentos emocionais e filosóficos, mas também homem de grande charme. 
  A sua existência está a desintegrar-se em todos os domínios. Herzog falhou enquanto escritor, enquanto académico, enquanto pai, enquanto marido e amigo - perdeu a segunda mulher e o melhor amigo, que o traíram um com o outro e agora formam um novo casal. Apesar de tudo, Herzog vê-se como um sobrevivente e aplica o seu inconformismo e a sua ira na escrita de cartas (que nunca chegará a enviar) para amigos, inimigos, rivais, colegas, pessoas famosas - vivas e mortas -, e em que revela a sua invulgar visão do mundo. 
  Uma agudíssima observação da vida pública e privada, no mais autobiográfico romance de Saul Bellow.

Autor: Saul Bellow
Editor: Quetzal (Setembro, 2014)
Género: Romance
Páginas: 488
Original: Herzog (1964) [Goodreads]

opinião
(4 em 5)

Através do intelectual e introspetivo Herzog, que empresta o nome a este premiado romance psicológico, Saul Bellow explora os extremos que nos compõem.

O segundo divórcio vem agravar a crise de meia idade que Herzog está a viver, especialmente quando descobre que a esposa, Madeleine, lhe foi infiel e que, aparentemente, só ele é que não sabia…

Enquanto tenta lidar com a traição e rejeição de Madeleine e luta pela custódia da filha de ambos, Herzog cai em desequilíbrio mental e instabilidade emocional ; a sua vida pessoal desmorona-se à sua volta, não encontra lugar nesta sociedade materialista decadente em que as pessoas se esforçam ao máximo por esconder as suas identidades e preservar a juventude, o mundo parece-lhe caótico e não consegue compreender o sentido da sua própria existência.

Confrontado com a necessidade de reparar a sua vida, Herzog lidará com isso à sua própria maneira, e é assim que o livro acaba por se encher de reflexões profundas, ideologias e filosofias que se contradizem. Herzog caminha por entre os extremos da emoção, cedendo ao seu otimismo romântico, e os extremos da razão.

As memórias do passado levam-no a contemplar os muitos falhanços da sua vida, nos vários papeis que desempenhou, os desapontamentos que sofreu e as desilusões que ele próprio provocou.


Muito do que lhe vai na cabeça é expurgado através de cartas, que escreve mas que não envia, para familiares, amigos e personalidades conhecidas. Esta atividade é para ele terapêutica, permite-lhe dissecar ideias, dialogar consigo próprio, embarcar numa viagem de autoconhecimento que lhe permitirá amadurecer, sair do isolamento, abandonar a necessidade de racionalizar e justificar todos os aspetos da vida… procurar, enfim, um novo começo.




✏ PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA 1976


✏  Escritor norte-americano de etnia judaica, Saul Bellow nasceu a 10 de Junho de 1915 em Lachine, nas cercanias de Montreal, no Canadá. Filho de judeus russos que haviam imigrado dois anos antes do seu nascimento, viveu num bairro desfavorecido de Montreal até 1924, altura em que a família se decidiu mudar para Chicago. A sua mãe faleceu em 1932 mas, apesar do desgosto profundo que sofreu, Saul Bellow conseguiu ser admitido no curso de Literatura Inglesa da Universidade de Chicago. Acabou no entanto por pedir transferência para a Northwestern University , de onde obteve um diploma em Antropologia e Sociologia em 1937. Matriculou-se depois num curso de pós-graduação na Universidade de Wisconsin, que logo abandonou, casando-se e decidindo tornar-se escritor a tempo inteiro. Na obrigação de sustentar a sua nova família, começou a leccionar na Escola Normal Pestalozzi-Froebel de Chicago em 1938, e aí permaneceu até 1942, iniciando então uma colaboração com o departamento editorial da Enciclopédia Britânica. No ano de 1944, e no âmbito da entrada dos Estados Unidos da América na Segunda Guerra Mundial, foi destacado para a Marinha Mercante. Não foi destacado para a Marinha de Guerra devido à sua ascendência russa e às simpatias que nutria na época pelos ideais de esquerda. A vida a bordo proporcionou-lhe o tempo e a disposição necessárias ao retomar da escrita e, assim, publicou nesse mesmo ano de 1944 o seu primeiro romance, The Dangling Man . A obra, em parte autobiográfica, conta a história de um jovem que atravessa uma crise ao saber que vai ser recrutado. Em 1947 foi a vez da segunda, The Victim. Em 1948 recebeu uma bolsa da Fundação Guggenheim, e partiu para a Europa, passando cerca de dois anos em Paris. Aí compôs The Adventures Of Augie March (1953), que lhe valeu o National Book Award no ano seguinte ao da sua publicação. O seu sucesso como romancista foi continuado com obras como Seize The Day (1956) e Herzog (1964), relato das desventuras de Moses Herzog, um intelectual judeu que enlouquece e que, para sobreviver às suas tendências suicidas, escreve cartas a Deus e a filósofos desaparecidos. No ano de 1976 recebeu o Prémio Pulitzer na categoria de Ficção pela publicação de Humboldt's Gift (1975), romance em que descreve o percurso de um escritor de sucesso, Charlie Citrine, a quem falta talento. Nesse ano de 1976 foi também galardoado com o Prémio Nobel da Literatura. Faleceu a 5 de Abril de 2005, na sua residência em Massachussetts, aos 89 anos. 
Saul Bellow. In Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2011.

Livros:
     - A Organização Bellarosa (Terramar, 1990)
     - Uma Recordação Minha (Editorial Teorema, 2005)
     - A Autêntica (Editorial Teorema, 2005)
     - A Vítima (Texto Editores, 2006)
     - Henderson, O Rei da Chuva (Texto Editores, 2006)
     - Aproveita o Dia (Texto Editores, 2007)
     - O Planeta do Sr. Sammler (Texto Editores, 2007)
     - Morrem Mais de Mágoa (Quetzal, 2010)
     - As Aventuras de Augie March (Quetzal, 2010)
     - Jerusalém - Ida e Volta  (Tinta da China, 2011)
     - Ravelstein (Quetzal, 2011)
     - O Legado de Humboldt (Quetzal, 2012)
     - Herzog (Quetzal, 2014)

            



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